18.11.06

árvores do Alentejo


Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:---
Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!

Florbela Espanca

10.11.06

Gosto de ouvir


Gosto de ouvir o português do Brasil

Onde as palavras recuperam sua substância total

Concretas com frutos nítidos como pássaros

Gosto de ouvir a palavra com suas sílabas todas

Sem perder sequer um quinto de vogal


Sophia de Mello Breyner Andersen

5.11.06

Na mão de Deus...



Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.


Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despôjo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.


Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,


Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!


Antero de Quental

Quero só trazer à memória o que me dá esperança...

Hino da Restauração da Independência



A PORTUGUESA