30.1.11

Não sei



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Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu

Alberto Caeiro

18.1.11

A lenda da fonte




Domingos Silva
Repertório de Natalino Duarte

Maria do Monte
Nascida e criada na encruzilhada
Que fica defronte da fonte sagrada
A lenda é antiga, mas há quem a conte
Que descia o monte, uma rapariga
P'ra beber na fonte

E àquela hora, por ela marcada de noite ou de dia
O Chico da Nora, na encruzilhada esperava a Maria
Seguiam depois, bem juntos os dois ao longo da estrada
Matar de desejos a sede com beijos, na fonte sagrada


Mas um certo dia
Como era esperada, na encruzilhada
Não veio a Maria á hora marcada
Seus olhos divinos, p'ra sempre fechou
A aldeia rezou, tocaram os sinos
E a fonte secou

E àquela hora, por ela marcada de noite ou de dia
O Chico da Nora, na encruzilhada esperava a Maria
Mas oh Santo Deus, escureceram-se os céus, finou-se a beldade
E diz-se no monte, que a velhinha fonte secou de saudade




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Quero só trazer à memória o que me dá esperança...

Hino da Restauração da Independência



A PORTUGUESA